domingo, 16 de agosto de 2009

O espetáculo da mídia televisiva

Ao ler o livro Jornalismo de TV das escritoras Luciana Bistane e Luciane Bacellar, onde também comenta sobre a espetacularização criada pela mídia, me deu vontade de analisar alguns casos ocorridos aqui no Brasil. Casos estes, que depois de serem veiculados incansavelmente pela mídia televisiva, passam a criar e/ou modificar a imagem de alguém. Mas até que ponto essa informação pode afetar a vida de um indivíduo? Como um seqüestro, de duas adolescentes em Santo André SP, no dia 13 de outubro de 2008, que se estendeu por cem horas, de repente pára o Brasil e comove pais, mães, enfim, toda a família brasileira? Mas, quem era Eloá Cristina Pimentel, Nayara Rodrigues da Silva e Lindemberg Alves? Será que a venda das suas imagens pela mídia como: duas garotas de 15 anos, inteligentes com o seu seqüestrador de 22 anos, mentalmente perturbado e/ou apaixonado, são de fato a verdadeira características dessas pessoas que foram mostradas a todo instante pela mídia?

O seqüestro de Santo André ou o caso Eloá como ficou conhecido, foi apenas mais um entre tantos episódios (um desses à Escola Base) que à mídia conseguiu inocular na sociedade, através da insistência, um juízo de valores sobre os personagens envolvidos, transformando-os assim, em figuras dramáticas de um show business.

A espetacularização midiática ficou evidente quando algumas emissoras deram espaço para o seqüestrador Lindemberg falar ao vivo, com a desculpa de estar aplicando um furo de reportagem, mas o que se pôde notar é que o sensacionalismo da imprensa em torno do caso, que permitiu que o tal seqüestrador conversasse e chorasse compulsivamente em todas as emissoras de TV que o procuravam, estava mais preocupada em alcançar alguns índices de audiência a procurar juntamente com a polícia o fim do episódio.

“O menino João Hélio Fernandes Vieites de apenas 6 anos, morre após ser arrastado por mais de sete quilômetros, preso ao cinto de segurança do carro onde estava, no bairro Oswaldo Cruz, Zona Norte RJ”, “Hoje às 23h30, cai do sexto andar sobre o gramado em frente ao prédio Isabella Nardoni, menina de 5 anos que chegou a ser socorrida mas morre pouco depois”. Manchetes deste tipo, não seriam tão exploradas pela mídia, se de fato ocorresse de forma acidental, mas basta apenas um diferencial do tipo: “(Ladrões após roubarem carro da mãe, arrastão o filho que ficou preso pelo cinto de segurança do veículo por mais de sete quilômetros, e ao verem o corpo da criança, eles tentaram se livrar fazendo ziguezague, nas ruas do bairro Osvaldo cruz” ou “Menina de cinco anos pôde ter sido atirada pelo pai e a madrasta pela janela do sexto andar do prédio onde os mesmos moravam)” para virarem uma comoção nacional. Será que ficamos realmente indignados quando vemos tais acontecimentos ou apenas vivemos o calor do momento?

Na verdade, estas coberturas feitas pela mídia, só conseguem aguçar no ser humano, a curiosidade, os prejulgamentos, e a revolta momentânea, pois esta, só aparece de tempos em tempos com um João Hélio, uma Isabela, (...) e uma Eloá, que passaram a ser reconhecidos a partir de um trágico desfecho que os levou à óbito.

A atuação da mídia pela obtenção da audiência foi bem evidenciada no filme O Quarto Poder de Costa-Gavras, em que um jornalista fracassado transforma um vigia desempregado, que invadiu armado um museu para reaver o seu emprego, em uma isca atraente para a mídia conseguindo com isso, causar um alvoroço nacional.

Enfim, não podemos negar que os meios de comunicação nos beneficiam com as suas informações levando-nos a conhecer histórias que jamais seriam apreciadas se os mesmos não existissem, mas, muitas vezes este beneficio vem mascarado e rotulado como: A sociedade precisa ser informada. Tudo bem que o direito a informação é importante. Mas até que ponto uma notícia pode ser divulgada? Será que um furo de reportagem é mais importante do que o indivíduo que está sendo exposto? Durante cinco dias o circo em Santo André ficou armado em torno do seqüestro. Agora, infelizmente cabe a nós esperar onde a próxima lona vai ser posta.


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